OASIS Uma Igreja Com Propósitos

Modismo ou segunda reforma?

Posted on: 22 de junho de 2009

Modismo ou segunda reforma?

Revista Igreja – Edição n.º2

Carlito Paes , É natural de Macaé-RJ, é casado com a Professora Leila Apse Paes, pai de 4 filhos, vive em São José dos Campos-SP, onde é pastor Sênior da Primeira Igreja Batista na cidade, é bacharel e Mestre em Teologia pelo STBSB, também tem formação em Capelania Pastoral, é autor dos livros Igrejas que Prevalecem e Como Pregar para Transformar Vidas , ambos publicados pela Editora Vida, é coordenador para o Brasil do Purpose Driven Ministries , e foi indicado pela CBB para ser um dos representantes do Brasil no Conselho da Aliança Batista Mundial nos próximos 5 anos.

 Entrevistado: Pr. Carlito Paes

Entrevistador:Jornalista Omar Souza.

1. Muito se ouve falar dos livros de Rick Warren e desta expressão: “com propósitos”. No entanto, nem todos sabem do que se trata. Como sintetizar este princípio? A expressão original em inglês, criada pelo pastor Rick Warren é PurposeDriven , isto é Dirigido por Propósitos, assim fica mais claro, quer dizer que não é apenas com propósitos, mas sim que a vida, a igreja, o ministério, devem ser guiados, dirigidos, controlados, balizados, através do equilí­brio dos Propósitos Bí­blicos de Jesus. Algumas pessoas dizem; mas minha vida tem propósitos, é verdade, todavia mais do que ter, o ponto esta em ser dirigido por eles, e não somente conhecer ou reter.

2. O que muda na perspectiva de uma igreja que adota este modelo? Permita-me primeiro esclarecer algo, igreja e vida com propósito não é um modelo, porque modelo é uma forma, um sistema, onde todos devem agir e fazer da mesma forma. São Princípios Bíblicos, não existe uma só igreja dirigida por propósitos igual a outra, porque a igreja que se utiliza desta estratégia bíblica ela não muda suas doutrinas, suas características essenciais de uma igreja local. O que muda na verdade é a forma da igreja alcançar, incluir, formar, capacitar e enviar as pessoas para viver os propósitos de Deus no mundo através do Grande Mandamento e da Grande Comissão.

 3. Quais os benefícios – e, naturalmente, os sacrifícios – que a adoção deste modelo implicam em relação ao ministério? Qual o impacto que exerce sobre o líder, particularmente o pastor? A implantação destes princípios gera saúde na vida das pessoas, minha igreja tem 63 anos de idade, era uma boa igreja, todavia ainda sofria de muitas enfermidades naturais de um organismo vivo, a aplicação destes princípios trás vida. O povo passa a buscar uma vida de adoração, missões, comunhão, discipulado e ministério, mas não em forma de programas ou projetos, como acontece em muitas igrejas ainda, mas de forma natural como estilo de vida, como falamos 24×7, isto é, 24 horas por dia e 7 dias por semana. O povo se volta para Deus e para as pessoas, sobra menos tempo para pecar, porque as pessoas se concentram mais em Deus e no ministério e não na carne. Sobre o pastor ele passa a cuidar mais da visão da igreja, da proclamação da Palavra e da formação cristã das pessoas, todavia ele precisa trabalhar em equipe e precisa abrir mão do controle. Porque ou o líder controla ou a igreja cresce de forma saudável, os dois é impossível. A igreja vive dirigida pelos propósitos de Deus e não dirigida por celebridades ou personalidade. A igreja não deve ser forte no que o pastor é forte, mas sim no que Jesus deseja que ela seja forte, isto é os 5 propósitos bíblicos.

4. Em sua experiência pessoal, quais as mudanças que a adoção desses princípios acarretaram? (Por favor, cite alguns exemplos práticos) Uma igreja mais ágil, mais leve, voltada para os de fora, isto é os sem igreja, e não prioritariamente para o interesse dos membros, uma igreja desburocratizada, uma igreja equilibrada, uma igreja de colegiado pastoral e ministerial, uma igreja mais serva, pastoreada não por um ou uns pastores e sim por “pastores-leigosâ” através de Pequenos Grupos (ou células).

5. O Ministério Propósitos vai completar quatro anos de existência. Por favor, faça um balanço dos resultados práticos durante este período inicial (quantas igrejas no início e quantas atualmente; progressos no desenvolvimento dos líderes etc.) O Ministério está só começando, estamos numa transição para uma fase mais profissional (No sentido de qualidade e excelência) para publicar recursos, livros e formar líderes. Nossa missão é transformar vidas e igrejas através dos propósitos de Deus. Todavia o ministério cresce por si, porque as igrejas, líderes e pastores perceberam que o material é Bíblico, adaptável, relevante, não é um modelo, é aplicável a qualquer igreja e nas conferências e eventos a busca é natural. Temos as naturais barreiras dos recursos financeiros, porque do contrário que muitos pensam apenas 20% das despesas do Escritório vem da Igreja de Saddleback, o restante levantamos aqui mesmo no Brasil. E meu trabalho é totalmente voluntário sem nenhuma remuneração. Já tivemos mais de 40.000 pessoas em nossas conferências, e estamos realizando uma média de 50 seminários regionais por ano no Brasil, temos 60 preletores ministrando cursos oficialmente, e já distribuímos milhares de kits, recursos, livros, apostilas e matérias relacionados pelo Brasil, todavia acreditamos que o melhor está por vir.

6. Com que projeções se trabalha? Quais as principais metas a médio e longo prazos? É um movimento livre, onde o foco está nas igrejas, pastores e líderes, não se pretende criar nenhuma associação entre estas igrejas e comunidades. Nosso alvo é a saúde das igrejas para ganharmos o mundo para Jesus.

 7. Quais os programas em andamento e os projetos a serem implantados? Os programas de maiores prioridades no mundo são as Campanhas de 40 Dias de Propósitos (mais de 1.000 igrejas brasileiras já realizaram esta campanha aqui e 30.000 nos EUA e no mundo), que tem por base o livro Uma Vida com Propósitos, esta visa implantar os propósitos na vida pessoal dos crentes, e agora em abril estamos lançando uma segunda campanha que se chama 40 Dias de Comunidade , que também tem por base um livro e um devocional do pr. Rick Warren, todavia o seu foco não é pessoal, e sim comunitário, ela deve ser feita pelos Pequenos Grupos ou células da igreja. Um outro programa que é transformador para vida da igreja é o Celebrando a Recuperação, um programa para recuperar pessoas através dos 12 passos do A.A. e das 8 Bem aventuranças de Jesus. Não só os não crentes precisam de recuperação, a igreja para ser saudável também. Em minha igreja e muitas igrejas que já estão implantando o efeito é maravilhoso.

 8. A quais fatores o senhor atribui o crescimento do movimento de igrejas com propósitos, inclusive no Brasil? Este é um movimento que cresce em todo mundo, inclusive até mesmo igrejas católicas estão implantando, mais de 1.000 igreja católicas nas Filipinas já fizeram a campanha, igrejas ortodoxas no Egito também. O Rev. Miguel Uchoa tem uma igreja em Célula no Recife, a Paróquia do Espírito Santo e está implantando com muito sucesso. Acredito que cresce porque é Bíblico, e se é Bíblico funciona em qualquer igreja, de qualquer tamanho ou denominação.

9. O senhor considera este o caminho natural para qualquer igreja? Há alguma denominação cuja eclesiologia gere algum conflito com este modelo? A realização da Campanha dos 40 Dias de Propósitos é a forma mais natural de se implantar esta estratégia, porque você não precisa fazer mudanças na estrutura da igreja. Hoje no Brasil, 7 anos após a publicação do livro Uma Igreja com propósitos, existem igrejas com propósitos de todas as denominações e tamanhos. As que tem mais dificuldade de implantação são igrejas que tem uma sede central, porque ai depende do líder-presidente, e as igrejas com sistemas muito tradicionais que dependem de aprovações de concílios e coisas assim. Já a igreja Batista e as comunidades independentes, por terem um sistema de governo local facilita a implantação e transição.

10. Como foi o seu processo de envolvimento – e, conseqüentemente, da Primeira Igreja Batista de São José dos Campos – com este movimento? Em 1998 li o livro, todavia não era o pastor sênior da igreja e não poderia implantar apenas influenciar, em 2000 assumi como pastor da igreja, em 2001 comecei a transição. A igreja através do pastor anterior, Pr. Reginaldo André Kruklis já havia feito grandes avanços como a implantação de ministérios, um maior foco em missões e ação social, menos tradicional, então não precisei começar do zero. Todavia Deus queria mais e depois de ler o livro e fazer um curso de pregação com o pr. Rick Warren nos EUA e fazer o curso com ele também no Rio de Janeiro em fevereiro de 2001, começamos com oração e dedicação a transição. Não foi fácil, foram 4 anos de muito trabalho, cerca de 50 pessoas deixaram a igreja, mas Deus foi generoso e os frutos vieram em abundância, e com um grande trabalho de equipe entre líderes e os pastores do colegiado hoje temos uma igreja com propósitos que cresce de forma natural diariamente, mudamos de local e hoje estamos prestes a iniciar a construção do nosso Campus numa área de 200.000Mts. Â

11. Que outras igrejas seriam exemplos de sucesso na implantação do modelo? Existem igrejas de todas as denominações, todavia não fico confortável de cita resta ou aquela igreja local. Cada igreja bem sucedida na implantação está saudável, equilibrada, com decisões ao lado de Jesus, batismos, ministérios, calendário, orçamento, equipe ministerial e Pequenos Grupos/Células dirigidos por propósitos. A maior fonte de legitimidade do sucesso de uma igreja com propósitos são vidas convertidas e transformadas por Deus.

 12. Entre as virtudes apontadas a respeito do modelo de igrejas com propósitos está a ênfase no treinamento, com produção de muito material impresso, em áudio e vídeo. Por que esta opção? A formação espiritual das pessoas é vital, você não poderá edificar uma igreja saudável se não ajudar as pessoas a crescerem, a capacitação é uma tarefa ordenada nas Escrituras aos líderes, portanto é nosso dever fazer isto. O impresso de qualidade, os kits usando os recursos da mídia televisiva facilita o dia a dia das pessoas, porque o tempo é valioso e anda escasso para todos. Esta estratégia está funcionando muito bem, vamos continuar investindo nesta direção.

13. A produção do material para as igrejas do Brasil é centralizada na Primeira Igreja Batista de São José dos Campos? Não. O Ministério Propósitos Brasil, é uma organização ministerial sem fins lucrativos, que embora tenha nascido dentro da PIB em S. J. dos Campos em 2002, ele hoje é totalmente independente, em sua visão, missão, valores, orçamento, planejamento. Inclusive tem um conselho consultivo formado de 15 líderes de diferentes igrejas evangélicas do Brasil. Ele tem incomum com a igreja é que seu presidente é o pastor sênior da igreja, ambos são dirigido por propósitos, e tantos os membros da igreja como seus pastores ajudam voluntariamente nos eventos e treinamentos realizados em São José dos Campos, como nossa conferência anual.

 14. Esta opção pela difusão do ministério com propósitos por meio do uso de recursos audiovisuais não cria uma dificuldade para alcançar igrejas em regiões menos favorecidas? Como evitar o risco de elitizar o modelo? Não, porque estas ferramentas ajudam, mas não são essenciais na implantação, porque quando eu e outros colegas implantamos não havia nada em português no Brasil, apenas o livro. A liderança é a chave, sem o líder você pode ter muitos recursos e materiais, mas não vai ter visão, paixão e liderança. Um prova disto é que no ano de 2004 uma das igrejas brasileiras que recebeu o prêmio Church Health Award foi uma pequena igreja num bairro pobre de Gravataí-RS, e em 2005, uma outra comunidade também pequena em Praia Grande-SP também recebeu. Como disse é para todas as igrejas e de todos os tamanhos.

15. Outro destaque é a valorização do discipulado. Mas não deveria ser esta a atitude natural de qualquer igreja, independente do modelo adotado? Sim! Todavia muitas igrejas ainda teimam em tratar discipulado como um programa de educação religiosa, como algo que se baseia em revista de EBD, como um programa de treinamento, etc… Discipulado é propósito de Deus para igreja, e portanto deve ser tratado como tal, precisa haver investimento pesado na igreja para que a formação espiritual da membresia aconteça, precisamos de pastores e ministros trabalhando de tempo integral nesta área, se a igreja já tem orçamento para isto. Discipulado é vida na vida, 24 x 7, como expliquei anteriormente de forma natural, como estilo de vida.

16. Por outro lado, uma crítica que se faz a movimentos como o da aplicação do princípio dos propósitos e outros similares “ como Crescimento Natural e Willow Creek “ é que são modelos importados e culturalmente estranhos à cultura brasileira. O que o senhor acha disso? Ouço isto periodicamente, é o argumento mais fraco se uma pessoa quer ir contra estes movimentos. Minha pergunta é: O que na igreja brasileira é genuinamente brasileiro? Porque a EBD, a celebração no templo, o uso do terno e da gravata, a exploração da comunicação no rádio e na TV, o uso das demais mídias, o uso órgão, o piano, o coro, os instrumentos acústicos e eletrônicos das bandas, nada disto é brasileiro, igrejas estrangeiras já faziam isto antes de qualquer igreja no Brasil. Eu não tenho visto muitas igrejas usando berimbau nos cultos e nem fazendo roda de capoeira para evangelizar, agora que estão surgindo as que usam samba e futebol. Na verdade os que assim criticam estão no seu direito, todavia demonstram falta de reflexão e conhecimento do assunto, Deus não é brasileiro, Ele usa o homem, independentemente onde ele nasceu, se ele nasceu nos EUA ou no Brasil. Ninguém fica restrito a usar coisas brasileiras, porque na igreja seria assim? Original é só a Bíblia, o restante é cópia de algum lugar. Como disse o pr. Rick Warren: “o segredo da criatividade é a capacidade de esconder as fontes.” Deus não nos chamou para sermos originais e sim eficientes e eficazes em nossa missão.

17. Se este modelo também pode ser eficaz nas igrejas brasileiras, o que elas precisam fazer em termos de eclesiologia, doutrina e administração? É necessário algum ajuste ou adaptação? A eclesiologia das igrejas tradicionais de linha histórica, e os movimentos penstecostais mais antigos como Assembléia de Deus, todos precisamos passar por profundas avaliações em sua administração e liturgia, porque ainda usam muita coisa do Brasil EUA e Europa, do início do século XX, não podemos querer ganhar o homem do século XXI usando meios do século passado. Muitas igrejas ainda usam o sistema estatal de governo, pesado, burocrático e lento. Sem dúvida que temos muito que a aprender com a administração contemporânea em nossas igreja, independente de igreja com propósitos.

18. Outra crítica é a de que seria um modismo feito para durar até a importação de outro. Qual a sua opinião? Como ter certeza de que este movimento não é efêmero? Igreja e Vida com Propósitos não vai passar porque são Bíblicos, isto já gerou uma revolução na igreja evangélica brasileira e mundial, queira ou não é um fato. Mais de 400.000 pastores e líderes foram treinados somente nos EUA, os livros do Rick são os mais vendidos do mundo traduzidos para mais de 40 línguas, existem igrejas com propósitos em todos os países livres do mundo, hoje Igreja com Propósito é estudada em quase todos seminários acadêmicos por alunos do mundo todo. Alguns podem adotar integralmente ou parcialmente, mas a influência é real. Alguns chamam de segunda reforma.

19. O senhor acha que Rick Warren pode ser chamado “guruâ” de uma nova geração de líderes? O termo “guruâ” é usado pelos meios de comunicação seculares, como a revista Você S.A. o definiu na edição de dezembro de 2005. Eu o conheço pessoalmente , é um homem de Deus, simples, que ama Deus, valoriza família, igreja local, filho de pastor, cunhado de pastor, agora é também segundo os próprios meios de comunicação como pastor mais influente do mundo na atualidade, e que tem usado toda sua influência e afluência para o avanço do Reino de Deus em lugares antes não explorados pela igreja de forma tradicional. Agora, tanto ele, como sua igreja sabem que os princípios de Igreja e Vida com propósitos excedem a sua pessoa e seu ministério local, porque são de Deus para o mundo! 20. As igrejas que optam pelo modelo ficam automaticamente vinculadas ao Ministério Propósitos? Elas passam a receber algum tipo de orientação do Ministério? Não, isto não existe. A igreja biblicamente saudável, ela é uma comunidade autônoma, seria um contra-senso. Temos a missão de informa-la e fornecer material para ajudar na execução de sua missão no mundo. O centro é a igreja local, foi ela que Jesus fundou (Mt. 16:18). As organizações paraeclesiasticas devem ajudar, se não atrapalhar já está bom.

21. Como o senhor vê o futuro do Ministério Propósitos no Brasil? Crescente e relevante, com a certeza que o melhor está por vir! E aproveito a oportunidade para convidar a comunidade evangélica brasileira para participar da Conferência Nacional de Igrejas Brasileiras com Propósitos que será realizada na cidade de São José dos Campos entre os dias 20 a 22 de abril próximo, esta conferência está em sua 5ª. edição. Para maiores informações sobre as ferramentas comentadas nesta entrevistas , artigos do pastor Rick Warren e sermões gratuitos, bem como fazer a inscrição on-line para a conferência acesse o site http://www.propositos.com.br

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